“Sua pintura surpreende pela audácia nada provinciana de alguém que viveu sempre longe dos circuitos ditos importantes para a arte brasileira, mas como talento não tem lugar marcado para nascer, eis ai um talentoso pintor, ainda pouco conhecido, mas será um nome repetido e aclamado, disso não tenho dúvidas.
A pintura sugere um mergulho em águas profundas do inconsciente do artista dominado pelo gesto largo e espontâneo, transpirando inquietação, com formas em plena ação, produzidas muitas vezes em grandes movimentos giratórios, circulares, criando figuras, ora humanas, ora animais, como saídas de um inventário surrealista, prestes a atacar ou a escapar do suporte plano da tela em direção ao espaço como se fossem evaporar.
Como definir a linguagem da pintura desse paraibano de cor acobreada, misto de índio e negro, sotaque carregado e olhar perspicaz? Será ele um expressionista abstrato? De inspiração de um de Willen De Kooning, por exemplo? Ou sua pintura mescla uma figuração diluída na gestualidade da matéria para expressar paixões metafóricas de um mundo em transformação?
Talvez tenha sido essa a minha primeira sensação ao ver a obra de Dias Paredes numa galeria de arte em Natal, no Rio Grande do Norte. Durante muito tempo aquela imagem povoou a minha imaginação, a tal ponto que voltei à galeria e comprei a obra a fim de saber o que havia contido ali, naquela quase ausência de cor, uma espécie de monocromatismo desenvolvido em semitons. Mas havia ainda alguma coisa que me deixava perplexo diante daquele trabalho, uma espécie de inquietação angustiada, da metamorfose kafkiana de um ser vivo em transformação. Compreendi, assim, que essas imagens do inconsciente do pintor tinham mesmo o poder de arrebatar, de prolongar uma longa viagem pelos recônditos caminhos do desconhecido, carregado de significados simbólicos, dispostos a provocar no espectador uma espécie de inquietação”.
São Paulo, 21 de junho de 2006.
Emanoel Araujo