Movimento Armorial



A idealização do Movimento Armorial partiu do dramaturgo e escritor paraibano Ariano Suassuna (1927-2014). Na época de sua fundação oficial em 18 de outubro de 1970, num concerto da Orquestra Armorial de Câmara com abertura de exposição de arte relacionada ao contexto nordestino escreveu Suassuna: "o movimento lançado agora, sob a denominação de armorial resultou de 25 anos de pesquisas" (SUASSUNA, 1974). Isso demonstra que o conteúdo deste movimento foi engendrado por toda a vida adulta do escritor. O Movimento Armorial, ao estimular a criação de obras com expressões técnicas, conceituais e que conscientemente são elaboradas para fixar estéticas que partem do romanceiro popular do nordeste é na verdade a vertente brasileira da obra de arte total, na qual a música, a literatura, as artes plásticas, a dança, o teatro, o cinema, a arquitetura etc. são conversões dum mesmo movimento. 

Sem uma linha rígida de princípios o próprio Suassuna o considerou “um movimento aberto” (Suassuna, 1974, p.17). Isso não significaria, contudo, que essa “abertura” fosse capaz de fugir da zona de influência do romanceiro popular nordestino (particularmente da literatura de cordel) e os desdobramentos para as outras artes. As danças nordestinas do xaxado ao frevo, da marujada ao reisado; o teatro nordestino, enquanto espetáculo popular do mamulengo, do cavalo-marinho e do bumba-meu-boi, enfim, sobretudo a música tradicional nordestina com o uso de instrumentos como a viola advinda dos jograis lusos e do alaúde árabe via portugueses no nordeste dos sécs. XVI ao XVIII, a rabeca sem a qual não há baião, os pífanos de ordem indígena, as zabumbas dos maracatus, o “marimbau”, uma criação armorial derivado do berimbau, os triângulos dos xaxados e dos xotes, etc. etc. Uma orquestração que apresente composições modais, especialmente utilizando-se da chamada “escala nordestina” ou as variações do mixolídio ou às vezes o modo dórico com alternâncias de tipo quarta aumentada e sétima diminuta que aparecem sempre nos baiões, em alguns lundus “baianos” e nos frevos e influências nas melodias que remetam a cantigas da lírica Galaico-Portuguesa e outras do Segrel Português já modificado na colônia. A herança trovadoresca ibérica também é evidente na poesia nordestina e o próprio nome indicado para o movimento revela essa preferência estética em Suassuna. Mas, em relação às artes plásticas, além do trabalho ceramista e em menor grau de escultura é em torno da Xilogravura que o movimento armorial condensa artes plásticas, música e poesia do nordeste.

O termo “Armorial”, provindo do termo francês “armoiries” ou “armes” (“Armas”), no sentido da heráldica, “conjunto das armas ou brasões da família” não é tomado, portanto, como neologismo. O próprio movimento armorial metaforicamente representaria uma “heráldica nordestina”, a qual se utiliza ainda de símbolos e grafismos criando uma verdadeira tipografia influenciada pela marcação de gado e com criação de um “alfabeto” próprio.


Fontes de pesquisa:

ALOAN, Rafael Bastos. A Organologia e adaptação timbrística do Movimento Armorial. Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2008.

SUASSUNA, Ariano. O Movimento Armorial. Recife: Universitária da UFPE, 1974.

Páginas da Internet (Acessadas em 24/04/2017)

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9879/9879_2.PDF