Pós-Modernismo
O termo pós-modernismo começou a ser utilizado e prontamente massificado sem que se pudesse fixar conceitualmente as suas determinações teórico-práticas. Isso ocorreu assim, a ponto de que a sua poética, suas propriedades sintáticas e suas estruturas (tanto quanto a sua “sorte” em ser abrigada ainda nos anos 60 em instituições de prestígio norte-americanas, forçando a atenção de todos) acabaram sendo cooptadas dentro dos novos modelos de percepção da arte, por meio de sua massificação, enquanto um fenômeno de burgo e popularização na sociedade de consumo.
Pode-se dizer que a partir da vocação antiartística herdada do modernismo e em alguns casos levada ao estremo pela arte pop, uma boa parte do que se começou a produzir em termos artísticos durante e imediatamente depois da década de 1960, chamado posteriormente de “era pós-moderna” construiu uma arte de caráter dúbio porque a noção de “anti-arte” então era entendida como forma de ruptura total com relação ao sistema não só artístico mas sobretudo político. Como se pôde verificar nos anos seguintes, da mesma forma que a arte moderna não tardou em se inserida nas academias e universidades (cofres da retidão e manutenção dos cânones), a arte pop também não demorou muito para perder seu caráter crítico à sociedade de consumo e tornar-se ambiguamente a expressão dela. Sendo assim, ambiguidade é a marca fundamental da arte pós-moderna, daí a dificuldade de sua determinação conceitual e de seu posicionamento e possibilidade históricas.
Pode-se mesmo divergir se existe ou não uma arte caracterizada como “pós-moderna”, principalmente porque o programa modernista na américa latina foi duplamente castrado, socialmente pelas ditaduras, e, artisticamente, depois, pela globalização. Contudo, o suprassumo destas divergências encontra-se antes na definição de modernismo do que na definição de pós-modernismo, já que a determinação possível do que viria depois, seja em termos de uma ruptura mais ou menos real ou algum tipo de desdobramento, nunca pode prescindir das elaborações e sedimentações conceituais ocorridas na implementação da arte moderna, enquanto período de distanciamento dos modelos de sociabilidade e de percepção de mundo burguesas. Ao contrário, as percepções da ausência de marginalidade, ausência de clandestinidade, aversão à sociedade de consumo e à produção de “commodities de arte” como mera demanda do mercado opõem de maneira explícita o modernismo ao pós-modernismo. Assim, mesmo que deixemos essa querela de definição de lado, abriu-se muito espaço para um tipo de arte sem reinvindicações de âmbito político que não possa ser apresentado em galerias, museus, bienais e outros círculos tradicionais de arte, muito diferentes dos Salões, Semanas, Saraus artísticos, Happenings e Coletivos - um tipo de arte-convulsão que não deve, salvo exceções pontuais, logo de imediato agradar ao Establishment (Museus, Curadores e Universidades). Com o fim das Vanguardas, todos estamos no mesmo barco. Num mundo da ausência de possibilidades o “novo” só pode ser visto como a reconfiguração do “velho”, ou seja, como imitação ou como conformismo; como resquício de um modernismo mais que tardio ou como pós-modernismo mesmo.
A explosão de ideias, planos, multiplicidade de procedimentos artísticos, materialidades, mil e uma tendências e singularidades, além do difícil controle das intenções, entre outras diversificações na arte pós década de 60 força-nos a não querer tentar encontrar alguma unidade estética nos movimentos que se seguiram à arte pop. Mas para aqueles que utilizam o termo pós-modernismo ainda é possível enxergar nele as digressões infinitas, o pastiche, a desfragmentação narrativa, pluralização em todos os sentidos para a criação da arte “única”.
Fontes de pesquisa:
BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2001.
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
JAMESON, F., Pós-Modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo,
Ática, 1996.
____________. Virada Cultural: reflexões sobre o pós-moderno. Trad. Carolina Araújo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
PEDROSA, Mário. Dos Murais de Portinari aos Espaços de Brasília. SP: Perspectiva, 1981.