Waldomiro de Deus

(Itagibá, BA, 1944)

Pintor. Foi o terceiro dos nove filhos dos agricultores Deocleciano de Deus Souza e Venância Joaquina Costa. Em 1956, aos doze anos de idade decidiu sair de casa e chegou, através de carona, a Nanuque (MG), onde ficou morando nas ruas. Dois anos depois seguiu de pau-a-pique para São Paulo, numa viagem que demorou uma semana. Aos dezessete anos, ao trabalhar como jardineiro na casa do imigrante italiano, Pierre Zacoppe, onde morava nos fundos, teve contato com as tintas, guache, cartolina e pincel e começou a pintar.

As suas primeiras produções, expostas para venda no viaduto do Chá, chamaram a atenção do compositor Teodoro Nogueira que apresentou Waldomiro ao folclorista Rossini Tavares de Lima. Foi esse folclorista quem fez os primeiros contatos com o Museu do Folclore, que logo se interessou pelas obras do artista.

A estreia de Waldomiro em exposições individuais ocorreu em 1964, com trinta e cinco obras exibidas na Galeria São Luís, em São Paulo. Com a venda de 10 dos trabalhos expostos, o artista conseguiu comprar um terreno e construir uma casa em Osasco, o que possibilitou a vinda de sua família da Bahia. Em 1966, recebeu menção honrosa no XV Salão Paulista de Arte Moderna. Nesse mesmo ano conseguiu maior visibilidade para sua obra ao participar da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, realizada em Salvador.

Em 1969 fez sua primeira exposição individual na Europa, na Galeria Antoinette, Paris. De 1969 a 1973, Waldomiro realizou várias viagens ao exterior, sendo uma das mais marcantes, uma viagem que fez a Israel, onde ficou hospedado num convento de freiras francesas. Foi nessa viagem que o artista afirma que sentiu “num raio de luz azul que veio do céu, a presença de Deus”. Ao retornar para o Brasil casou-se com uma vizinha chamada Lourdes da Hora, hoje Lourdes de Deus, também pintora, com quem teve seis filhos, todos com nomes bíblicos.

Nos anos 1970 e 1980, ganhou notoriedade em função de seu comportamento performático, das roupas extravagantes que passou a vestir, sobretudo depois de maio de 1968 em Paris e Woodstock (1969). Em sua casa tinha um caixão dentro do qual costumava descansar.

Jorge Amado escreveu: “É realmente de Deus esse Waldomiro que reinventa a vida com a pureza de sua ingênua sabedoria. Um poeta do povo, um mágico. Jogral a misturar as cores como quem faz versos ou inventa um passo de dança, recriando a vida com amor, Waldomiro de Deus nos oferece, com a sua pintura, o que de melhor existe: o gosto de viver, a fraternidade, a ternura”.

A sua carreira é marcada por mais de 150 exposições em diversas partes do mundo.

Nos anos 1970 e início dos 1980, depois de viajar pela Europa, Ásia e América Latina, dedicou boa parte de sua pintura à cultura popular brasileira, à paisagem interiorana e às cenas pastoris.

Na segunda metade da década, o artista começou a criar trabalhos de dimensões maiores, alguns dos quais estão no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Brasileira da FAAP, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Museu Brasileiro de Escultura (MUBE), entre outros.

Enquanto na década de 1980 a produção de Waldomiro de Deus é marcada pela ascensão dos temas religiosos, na década de 1990 sua obra se diversifica e passa a discutir em suas telas a violência urbana, as agressões à natureza, chacinas, sem, no entanto, abandonar seus temas pastoris.

Atualmente, Waldomiro apresenta uma grande riqueza de temas, onde há espaço para fatos de grande repercussão como o desmoronamento das torres gêmeas em Nova York, os conflitos no Oriente Médio e mais recentemente, o terremoto e tsunami no Japão. A corrupção na política brasileira também foi mostrada na série denominada “O Mensalão”. Essas produções aparecem em meio aos temas religiosos e ligados à natureza, nunca abandonados por Waldomiro de Deus.

Waldomiro de Deus mantém também uma página na internet onde é possível conhecer melhor o artista e sua produção:  www.waldomirodedeus.com.br



Waldomiro de Deus
O esconderijo de Bin Laden
2001
MAB 01-2284

Personalidades Relacionadas

Rossini Tavares de Lima
(1915-1987)
Crítico musical, jornalista, historiador e folclorista.

Jorge Amado
(1912-2001)
Escritor baiano famoso pelos romances de temática regionalista.