(São Gonçalo/RS, 1940 - 2015)
Pintor e escultor. O artista faz um retrato de si mesmo: “Negro bastardo. Nascido de mãe negra filha de índios e de pai filho de negra da África e de pai português. Os meus pais se casaram finalmente na igreja, depois do terceiro filho. Eu, o quarto; o “legitimo” nascido dentro da lei, porque meus pais se casaram na igreja; pobres índios e pobres mestiços, que passaram pelos missionários com todos os seus tenros rituais que se transformaram em cristãos e ainda permanecem neles, tenros e selvagens. Para mim todos os caprichos, o preferido, “o verdadeiro filho”. E em poucos anos, eu comecei a “morrer”. Morria a casa breve período de vida. E quando a vida não me interessava mais, eu morria mais uma vez. Então, bastava que gritassem comigo, me transformava em cadáver, e assim então meus pais e irmãos, choravam, e me beijavam e só assim eu voltava a viver. Aí, eu também comecei a usar a necrofilia. Porque meus pais e irmãos eram também necrofilos. Porque morria assim, me mandaram internar num Seminário”. (Edival Ramosa http://edivalramosa.com.br/ ).
Edival Ramosa atuou como integrante do Batalhão Suez no Egito em 1962, visitando também países europeus. No ano de 1964, fixou residência em Milão, onde trabalhou com Pomodoro, Fontana e Baj e realizou, em 1965, sua primeira exposição individual (que se desdobraria em cerca de 20 ao longo de sua carreira até meados dos anos 80).
De volta ao Brasil em 1974, estabeleceu-se em Cabo Frio/RJ. Desde 1965, participou de diversas mostras coletivas no Brasil, na Itália, na Inglaterra e na Iugoslávia (com mais de 30 mostras), e realizou exposições individuais em Milão, Bolonha, Verona, Trieste, Pesaro, Varazze e Ferrara (Itália), Camberra (Austrália) e Gent (Bélgica). No Brasil, suas exposições individuais realizaram-se no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Cuiabá, em Brasília e em Ribeirão Preto. A princípio, influenciado por artistas europeus e norte-americanos, praticou um estilo construtivista, com jogos ópticos e referências à visualidade urbana e usando materiais como madeira esmaltada, aço inoxidável e acrílico. A partir da década de 1970, estabeleceu um diálogo com a estética indígena e afro-brasileira, passando a empregar materiais como palha, peles, plumagens, miçangas e bambus. Destaca-se a série Homenagem aos deuses dos índios, de 1973, elaborada após a leitura do livro O Cru e o Cozido de Claude Lévi-Strauss. Roberto Pontual afirmou que “o refinamento, a elegância e o asseio tecnológico de antes fundiram-se, agora, a um contraponto ritualístico [...]. Passado e presente, arcaísmo e civilização, tribo e cidade ali novamente se reagrupam.” Para Jaime Maurício, consciente de que o índio brasileiro utilizou em sua atividade artística recursos e inspiração comuns à arte de outros povos – funcionalidade, simetria, ritmo, respeito às peculiaridades dos materiais usados – Ramosa sabe que pode mostrar-se indigenista sem rejeitar o que há de mais sofisticado em sua experiência europeia. [...] Sem lançar manifesto antropofágico, Edival Ramosa faz um campeão do arsenal rítmico, mágico, cromático e místico da cultura afro-indigenista de sua terra e de seu sangue, apresentando-o numa aura que confere a este arsenal plena circulação universal.” O artista possui obras em cerca de 10 museus internacionais e em mais de 30 coleções particulares ao redor do mundo. Dentre eles destacam-se o Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro – Brasil; MAC Museu de Arte Contemporânea de Niterói- Rio de janeiro – Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo – São Paulo – Brasil; Arezzo Museum das Artes – Arezzo – Italia; Acireale Museum das Artes – Acireale – Italia e California Afro-American Museum – Los Angeles – USA.