Ápio Patrocínio da Conceição - Camafeu de Oxóssi (Salvador, BA, 4 de outubro de 1915 – 1994).
Cantor, músico e comerciante baiano, Ápio Patrocínio da Conceição ficou conhecido pelo seu apelido, Camafeu de Oxóssi. Devido a suas muitas qualidades, tornou-se um ícone da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia. Camafeu de Oxóssi é citado em diversas músicas e livros que retrataram a cidade na segunda metade do século XX. Obá de Xangô da Casa de Candomblé Axê Opô Afonjá e ex-presidente do Afoxé Filhos de Gandhi, esteve, ao lado de outras personalidades da cultura afro-brasileira, representando o Brasil e a Bahia no primeiro Festival de Artes Negras realizado em Senegal.
Ápio Patrocínio da Conceição nasceu em Salvador, cidade onde residiria por toda a sua vida e onde ainda jovem receberia o apelido de Camafeu, palavra que dá nome a uma pedra preciosa, um doce e um broche. O apelido seria complementado pela referência ao Orixá Oxóssi, que protegia o jovem adepto da religião do candomblé. Filho da baiana de tabuleiro Maria Firmina da Conceição, Camafeu de Oxóssi perdeu o pai, Faustino José do Patrocínio, quando ainda era muito novo. Cresceu pelas bandas do Pelourinho, trabalhando em pequenos ofícios ambulantes como engraxate, vendedor de cadarço e de jornal. Estudou na Escola de Aprendiz de Artífice, trabalhando na fundição e mais tarde passou para a estiva, até tornar-se dono da Barraca de São Jorge, no antigo Mercado Modelo, que vendia berimbaus e artigos religiosos afro-brasileiros.
Da sua vivência e conhecimentos adquiridos nas ruas de Salvador, Camafeu tornou-se Mestre em Capoeira, exímio tocador de berimbau, cantador e compositor de cantigas, chulas, sambas, além de conhecedor de inúmeras estórias e lendas da cidade. Era como uma memória viva das ruas de Salvador.
Da sua vivência em um dos mais tradicionais terreiros de Salvador, o Candomblé Axé Opô Afonjá, nos tempos da renomada Mãe Senhora, tornou-se Obá de Xangô, posto conferido a outros nomes de destaque da cultura brasileira como o artista plástico Carybé e os cantores Dorival Caymmi e Gilberto Gil.
Durante a década de 60 quando foi inaugurado o curso de Iorubá da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Camafeu foi um dos primeiros alunos do curso. Na mesma década lançou pela Continental seu primeiro disco, intitulado “Berimbaus da Bahia” (1967), composto de cantigas de capoeira em seu lado A e cantigas de Orixás no lado B. No ano seguinte, lançou seu segundo disco, desta vez pela gravadora Philips, “Camafeu de Oxóssi”, composto também por músicas de capoeira e canções votivas a Orixás.
Em 1972 Camafeu inaugurou, ao lado de sua esposa Toninha, um restaurante no novo Mercado Modelo, instalado no prédio da antiga alfândega, depois que um incêndio destruiu o antigo. O lugar tornou-se rapidamente um dos mais procurados de Salvador, famoso por um ótimo tempero e atendimento impecável. Desde então, o restaurante de Camafeu de Oxóssi divide espaço com outro também bastante conhecido, que pertence à família da famosa cozinheira baiana Maria de São Pedro, falecida em 1958.
Entre 1976 e 1982 Camafeu de Oxóssi foi presidente do famoso Bloco de Afoxé Filhos de Gandhy, fundado em 1949, mesmo ano em que o líder Indiano Mahatma Gandhi, que inspira o grupo, morreu assassinado. O Bloco teve origem entre trabalhadores da estiva e desfila pelas ruas de Salvador durante o carnaval e outras festas, cantando em louvor aos Orixás. Entre 1973 e 1976 o grupo passou por uma crise e deixou inclusive de desfilar. Camafeu de Oxóssi foi um dos responsáveis pela retomada e crescimento do grupo, trazendo de volta integrantes que haviam deixado de desfilar pelo Afoxé.
Ápio Patrocínio da Conceição faleceu em 1994, na cidade de Salvador, aos 78 anos, vítima de um câncer. Seu enterro foi um dos mais assistidos da Bahia. Para uma última despedida a Camafeu de Oxóssi, compareceram figuras ilustres da vida politica e cultural baiana, em cerimônia realizada no Cemitério da Ordem Terceira de São Franscisco.
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Fontes e Referências
Foto: Adenor Gondim
Bibliografia:
AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Desenhos de Carlos Bastos. 27ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1977.
CARYBÉ. As Sete Portas da Bahia: texto e desenhos de Carybé; prefácio de Jorge Amado. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1976.
SALAH, Jacques. A Bahia de Jorge Amado. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 2008.
Internet:
http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2007/02/camafeu-de-oxossi.html (último acesso em 13/06/2014).