Mercedes Baptista

(Campos de Goytacazes, RJ, 1921 - Rio de Janeiro, RJ, 2014)


Mercedes Baptista retratoMercedes Ignácia da Silva Krieger foi bailarina e coreógrafa, considerada a maior precursora do Balé e da Dança Afro no Brasil. Nasceu no ano de 1921 em Campos dos Goytacazes, RJ, filha de João Baptista Ribeiro e Maria Ignácia da Silva. A família humilde vivia do trabalho de Maria, que era costureira.

Mercedes mudou-se com a sua mãe para o Rio de Janeiro quando ainda era jovem. Na então capital federal, depois de estudar no Colégio Municipal Homem de Mello, na Tijuca, exerceu profissões diversas, inclusive trabalhando na bilheteria de um cinema. Nesta época, quando podia, assistia aos filmes exibidos e assim cultivava o desejo de tornar-se artista. Com o objetivo de alcançar seu sonho, começou a dedicar-se a dança. 

A partir de 1945, frequentou a Escola de Dança da bailarina Eros Volússia, reconhecida por seu método de investigação das danças populares para a criação de um balé brasileiro erudito. Um pouco mais tarde, entrou na Escola de Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sendo aluna de Yuco Lindberg.

Destacando-se na Escola do Teatro, em 1948 Mercedes foi aprovada em concorrido concurso e tornou-se a primeira negra a fazer parte do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No entanto, o fato de compor o referido grupo não amenizou o forte preconceito em relação a bailarinos negros existente no Brasil. Foram poucos os diretores do grupo que selecionaram Mercedes para compor o elenco dos espetáculos. A bailarina atuou em poucas ocasiões, ainda assim, suas aparições em peças nacionalistas de compositores brasileiros, além de figurações, fizeram-na bailarina reconhecida no Rio de Janeiro.

Também na mesma época em que fez parte do Corpo de Baile do Teatro Municipal, a bailarina realizou inúmeras participações e apresentações junto com o grupo do “Teatro Experimental do Negro”, fundado por Abdias do Nascimento. Ao lado de artistas como Ruth de Souza, Haroldo Costa e Santa Rosa, Mercedes militou pelo reconhecimento e pela integração de atores e dançarinos negros no teatro brasileiro. 

No inicio dos anos 50, Mercedes conseguiu uma bolsa de estudos com Katherine Dunham (a matriarca da dança negra norte-americana) nos Estados Unidos. Dunham havia estado no Brasil para se apresentar com seu grupo e através do Teatro Experimental do Negro conheceu a jovem dançarina. Depois de concorrida audição, Mercedes Baptista foi escolhida para estudar junto com a companhia da bailarina norte-americana durante um ano.

Ao retornar ao Brasil, inspirada pela temporada norte-americana, Mercedes montou o seu próprio grupo, decidida a formular uma proposta de dança ligada à cultura afro-brasileira. Neste sentido, a dançarina passou a investigar a dança dos candomblés brasileiros, frequentando a casa do amigo e pai de santo Joãozinho da Goméia, no Rio de Janeiro. Inclusive, havia filhos de santo da casa que eram bailarinos do grupo. A bailarina contava também com a ajuda do grande pesquisador e folclorista Edson Carneiro. 

Com seu grupo, fundado em 1953 e batizado de “Ballet Folclórico Mercedes Batista”, a dançarina montou inúmeros espetáculos e realizou participações em diversas apresentações de Teatro de Revistas, com destaque para “Agora a Coisa Vai” e “Rumo a Brasília”, sucessos da época. Ao longo de sua vitoriosa trajetória, o grupo excursionou com sucesso pelo Brasil e países sul-americanos, além de participar de espetáculos do Corpo de Baile do Teatro Municipal.

Mercedes foi reconhecida por seus alunos como uma professora bastante rígida e exigente, ao mesmo tempo, sua bondade e sua generosidade tornava possível aos alunos mais humildes e dedicados realizarem as aulas sem pagar a mensalidade. Estas características da professora Mercedes permitiram ao seu Ballet Folclórico revelar ao público alguns dos maiores bailarinos e bailarinas da dança brasileira.

Durante a década de 1960, Baptista compôs uma pioneira e vitoriosa parceria com os carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, quando foi convidada a criar uma ala de passo marcado para a Escola. Na estreia da parceria, a crítica foi extremamente positiva e a Escola sagrou-se campeã. Também merece destaque o ano de 1963, quando Mercedes montou e coreografou a Comissão de Frente da Escola por ocasião do festejado e premiado enredo “Chica da Silva”. O grupo de bailarinos liderados por Baptista dançou o minueto, compondo uma linda coreografia com a Igreja da Candelária ao fundo. A parceria gerou polêmica, mas revolucionou o modo como as alas se apresentavam no carnaval carioca. 

Ainda na década de 60, Mercedes viajou várias vezes à Europa, sendo que em 1965 apresentou-se com seu grupo na França, a convite do governo brasileiro. Em 1967 o grupo original do Ballet Folclórico de Mercedes Baptista foi se desfazendo, enquanto a artista assumia outros compromissos como coreógrafa e professora. Em 1969 ela concebeu e dirigiu o espetáculo “Tropicalíssima”, apresentado em Lisboa, Portugal.

Nos anos setenta, Mercedes Baptista dedicou-se especialmente ao ensino. No Brasil, tornou-se professora da Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ministrando a disciplina “Dança Afro-Brasileira”. Nos EUA, ministrou cursos no Connecticut College, no Harlem Dance Theather e no Clark Center de Nova York. Em 1976 foi homenageada pelo Bloco Carnavalesco Alegria de Copacabana. Ao mesmo tempo, seu sucesso como coreógrafa a tornava cada vez mais requisitada para o cinema e a televisão.   

Em 1980 o Ballet Folclórico Mercedes Baptista foi retomado e um novo grupo se formou. Com grande sucesso, foram apresentados os espetáculos “Orungá e Iemanjá”, “Visita de Oxalá ao Rei Xangô” e “Mondongô”. Em 1982 a bailarina e professora se aposentou pelo Teatro Municipal. 

A partir dos anos noventa, a artista passou a ser homenageada em cerimônias públicas e por diversas Escolas de Samba, que reconheceram sua inestimável contribuição para a dança e o carnaval carioca. Em 2000, recebeu uma homenagem na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em reconhecimento a sua inestimável contribuição à dança brasileira, além de ter sido homenageada em uma grande exposição sobre a sua carreira e em um vídeo-documentário, chamado “Balé Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista” dirigido por Lílian Solá e Marianna Monteiro, lançado em 2006. O nome da artista também batizou uma sala de dança do Centro Cultural José Bonifácio, em homenagem da Prefeitura do Rio de Janeiro. 

Mercedes foi casada por cinquenta anos com Paulo Krieger, companheiro fiel, que faleceu em 2002. Com o marido, teve um filho em 1966, falecido vítima do chamado “mal dos sete dias” (tétano neonatal). No final da década de noventa, Batista sofreu a primeira de três isquemias que debilitaram a sua saúde. Mercedes Baptista faleceu no Rio de Janeiro, em 18 de agosto de 2014, aos 93 anos de idade. 

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Fontes e Referência

Foto:
Themistocles Halfeld


Bibliografia:
LIMA, Nelson. Dando Conta do Recado: A dança afro no Rio de Janeiro e as suas influências. Rio de Janeiro, 1995. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Antropologia) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995.

MONTEIRO, Marianna F. M. Dança Afro: Uma dança moderna brasileira. In: NORA, Sigrid e

SPANGHERO, Maíra. (Org.). Húmus 4. Caxias do Sul: Lorigraf, 2011, v., p. 51-59.   


Internet:
http://www.wikidanca.net/wiki/index.php/Mercedes_Baptista

 

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