Manuel Querino

(Santo Amaro da Purificação, BA, 1851 – Salvador, BA, 1923)


Manuel_QuerinoNasceu em Santo Amaro da Purificação, em 28 de julho de 1851, filho do carpinteiro José Joaquim dos Santos Querino e Luzia da Rocha Pita. Os pais morreram quando Manuel ainda era jovem. Órfão, o menino encontrou conforto na casa de uma amiga da família, que o levou para Salvador, onde recebeu como tutor o Bacharel Manuel Correia Garcia, professor aposentado da Escola Nacional. A tutela de Manuel Garcia garantiu uma boa formação para o pequeno Querino, que aprendeu a ler com o bacharel. Mais tarde, foi Garcia quem incentivou o jovem, já em idade própria, a aprender o ofício de pintor.

Depois de uma curta temporada no Piauí, Manuel Querino foi recrutado para a Guerra do Paraguai, seguindo para o Rio de Janeiro em meados da década de 1860, onde trabalhou como escrita do seu batalhão. Em 1970, findada a guerra, voltou para a Bahia, onde passou a trabalhar como pintor durante o dia e estudar humanidades à noite, no recém-criado Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, sendo aluno de Miguel Navarro y Cañizares. Posteriormente, também frequentou o curso de Desenho e Arquitetura na Academia de Belas-Artes, tendo obtido destaque como exímio desenhista geométrico. 

Em Salvador, depois de ser iniciado na política por intermédio de seu padrinho Manuel Pinto de Souza Dantas, chefe do Partido Liberal, Querino passou a ser atuante na luta abolicionista e no movimento republicano. Manifestou-se nas cessões da Sociedade Libertadora Baiana e no jornal Gazeta da Tarde, onde escreveu uma série de artigos denunciando o absurdo da escravidão e proclamando a necessidade da abolição imediata e redentora.

Em 1975, Manuel Querino participou ativamente das diversas reuniões entre operários da construção civil, que resultaram na fundação de uma das primeiras cooperativas de trabalho do Brasil, a Liga Operária Baiana. A cooperativa quebrou o monopólio dos arrematantes de obra, que pressionavam o salário dos operários para baixo, e realizou inúmeras obras para particulares e para o Governo. No entanto, a Liga veio a desfazer-se no final da década de 1870.

Apesar da decepção com a extinção da Liga Operária, Manuel Querino não desanimou e seguiu a luta em favor da classe operária e da República. Em 1887 lançou o seu jornal chamado “A Província”, que circulou desde 20 de novembro de 1887, dia do lançamento, até o final de 1888. Querino produziu o que se chamaria hoje de um “jornalismo militante”, não era jornalista por profissão, mas utilizava o seu jornal para difundir a suas ideias e opiniões.

Mais tarde, no inicio da década de 1890, Manuel Querino tornou-se um dos membros do diretório geral do Partido Operário, criado em 1890. No entanto, o partido não teve vida longa e dissolveu-se dando origem a um movimento de classe sem finalidades eleitoreiras, batizado Centro Operário da Bahia. Ainda ao longo da década de 90, Querino tomou parte no Conselho Municipal de Salvador (atual Câmara Municipal) por duas ocasiões, entre 1890 e 1891 e posteriormente entre 1897 e 1899, antes de abdicar da política em favor da carreira de intelectual. 

Com o abandono da politica, Manuel Querino voltou seus olhos para a pesquisa das manifestações populares e da cultura afro-brasileira, tendo escrito inúmeros livros sobre o tema, com ênfase na historia da Bahia, em artes e costumes. Foi seguramente o primeiro intelectual a reconhecer e divulgar a contribuição das culturas africanas à cultura brasileira.

Como pesquisador, coletou fontes orais e buscou o reconhecimento da contribuição do negro na história do Brasil. Seus escritos sobre personalidades negras e mestiças insurgiam contra o preconceito e a inferioridade que cercavam o negro deste país. Especialista na temática da formação social do Brasil, Querino renegou e combateu as previsões pessimistas que faziam intelectuais defensores do racismo científico como Gobineau e Lapouge, entre outros. O seu artigo “O Colono Preto como Fator de Civilização Brasileira”, apresentado no Sexto Congresso Brasileiro de Geografia é uma resposta aos escritos de Nina Rodrigues.

Além de publicar inúmeros artigos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, instituto do qual era membro-fundador, podemos destacar entre as diversas obras de Manuel Querino: Artistas Baianos (1909), A Bahia de outrora (1916) e O Colono Preto como Fator da Civilização Brasileira (1918). Seu trabalho mais conhecido, no entanto, é a publicação póstuma Costumes Africanos no Brasil (1938), composto por um conjunto de artigos do autor selecionados por Arthur Ramos.

Manuel Querino foi um dos mais destacados intelectuais baianos, é considerado pelo professor Jeferson Bacelar (UFBA) como um dos fundadores da Antropologia brasileira. Faleceu em Salvador, no dia 14 de fevereiro de 1923, vítima da malária. Inúmeras homenagens sucederam a morte do intelectual, na Câmara Municipal de Salvador, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas Artes, entre outros lugares pelos quais Querino passou e por onde contribuiu com sua luta, sua inteligência e seu talento.

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Fontes e Referência 


Foto:
autor não identificado. 

Bibliografia:

Calmon, Jorge. O Vereador Manuel Querino. Salvador: Câmara Municipal de Salvador, 1995.

Ermakoff, George. O negro na fotografia brasileira do século XIX. Rio de Janeiro: G. Hermakoff, 2004. 

Gama, Hugo e Nascimento, Jaime(org). Manuel R. Querino: seus artigos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2009.
________________________________ Personalidades negras: trajetórias e dados biográficos. Salvador: Quarteto, 2012.



 

 



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