Juliano Moreira

(Salvador, BA, 1873 – Rio de Janeiro, RJ, 1933)


Juliano-MoreiraFilho do português Manoel do Carmo Moreira Júnior, inspetor de iluminação pública, e de uma empregada doméstica na casa de um conhecido médico baiano, Juliano Moreira se interessou muito cedo pela Medicina, incentivado, inclusive, pelo patrão da mãe.

Aos 13 anos, Juliano Moreira iniciou o curso de Medicina, na Bahia. Após cinco anos (1891) formou-se com a apresentação da tese “Sifilis maligna precoce”. Aos 23 anos, Juliano Moreira passou num concurso para o cargo de assistente da cátedra de Clínica Psiquiátrica e Doenças Nervosas da Faculdade de Medicina da Bahia. Durante o exame, estudantes e curiosos acompanharam atentamente a realização de todas as provas, já que a maioria dos membros da banca examinadora era composta por escravocratas que não viam com bons olhos o ingresso de um mestiço. Quando finalmente Juliano Moreira foi aprovado, a comoção foi geral.

Enquanto esteve na Bahia, Juliano Moreira criou, em 1894, juntamente com Nina Rodrigues (1862-1906) e outros médicos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Estado. Atuou também como médico da Inspetoria de Higiene, atendendo a população carente em cidades próximas a Salvador.

Juliano Moreira foi um grande pioneiro em sua área de atuação. Em 1899 ele fez uma conferência divulgando as ideias de Sigmund Freud (1856-1939), o que o fez ser considerado o percursor da Psicanálise no Brasil. 

Em 1903, Juliano Moreira assume, no Rio de Janeiro, a direção do Hospital Nacional de Alienados, introduzindo práticas que refletiam seu profundo conhecimento do campo psiquiátrico mundial.  Uma das primeiras medidas tomadas por ele foi a separação das crianças dos pavilhões de adultos, colocando-as num local especial para elas. O médico tomou ainda medidas revolucionárias ao propor que no lugar de coletes, camisas de força e grades, fosse adotada a klinoterapia (terapia pelo repouso), além do trabalho em oficinas. 

Quando assumiu o cargo, Juliano Moreira tinha 33 anos e acabava de retornar da Europa, onde tinha ido em busca de tratamento para a tuberculose que havia contraído. Entre 1895 a 1902, participou de diversos cursos sobre doenças mentais de renomados médicos e psiquiatras. Fez estágio em anatomia patológica e frequentou as principais clínicas psiquiátricas e manicômios da Alemanha, da Inglaterra, da França, da Itália e da Áustria.

Na área de Saúde Pública, o psiquiatra trabalhou a favor da lei de assistência a alienados (1930) que garantia, entre outros direitos, o da internação dos cidadãos com alienação. Juliano Moreira também defendeu a necessidade de criação de diferentes tipos de hospitais para tratamento, inclusive um manicômio judiciário, o que foi concretizado em 1921, após uma rebelião no Hospital Nacional de Alienados. Uma das medidas mais importantes defendidas por Juliano Moreira foi a criação de uma colônia agrícola, que foi inaugurada em 1924 como Colônia de Psicopatas-Homens, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e em 1935 denominada Colônia Juliano Moreira. 

Um dos temas mais debatidos por Juliano Moreira está relacionado à questão racial. Enquanto muitas teses afirmavam que as populações dos países mestiços eram mais suscetíveis às doenças mentais, Juliano Moreira negava essa possibilidade.

Fora do Brasil, Juliano Moreira apresentou trabalhos em vários congressos. Em viagem ao Japão, em 1928, recebeu a Ordem do Tesouro Sagrado do imperador Hiroshito (1901-1989). No Brasil, Juliano Moreira sempre fez questão em mostrar ao mundo que o país era capaz de fazer ciência. O médico participou, por exemplo, da comissão que elaborou a primeira classificação psiquiátrica brasileira, entre 1908 e 1910.

Juliano Moreira foi diretor do Hospital dos Alienados por mais de vinte anos, sendo afastado da função em 1930. Morreu apenas três anos após deixar o cargo, na cidade de Corrêas, no Rio de Janeiro. Moreira foi casado com uma enfermeira alemã que conheceu numa de suas viagens e não deixou herdeiros. 

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Fontes e Referências

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 autor não identificado 

Bibliografia:
CARVALHAL, L.A. Loucura e Sociedade: o pensamento de Juliano Moreira (1903-1930) [monografia de bacharelado em História]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1997. 

ODA, Ana Maria Galdini Raimundo; DALGALARRONDO, Paulo. “Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico”. Revista Brasileira de Psiquiatria; 22(4); 2000. P. 178-179

PASSOS, A. Juliano Moreira (vida e obra). Rio de Janeiro: Livraria São José, 1975.

VENANCIO, Ana Teresa A. “As faces de Juliano Moreira: luzes e sombras sobre seu acervo pessoal e suas publicações”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro. N. 36, julho-dezembro de 2005, p. 59-73.


 


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