Lançamento do catálogo: Múltiplas Vozes Femininas

07 de março de 2023
A mostra que foi inaugurada no dia 30 de julho de 2022, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela (25 de julho), trouxe ao público produções de 28 artistas presentes no acervo da instituição. Trata-se da última curadoria assinada por Emanoel Araujo (1940-2022), fundador do Museu e seu Diretor Curador durante 18 anos, que faleceu no último dia 07 de setembro. O evento de lançamento da publicação acontece no próximo dia 11 de março, às 15h, e  terá a participação de artistas convidadas.



Múltiplas vozes femininas

Eis aqui essas vozes femininas reunidas nesse espaço, expressando seus sentimentos, olhando o mundo de frente com a realidade de cada qual, na adversidade de muitos e muitos conteúdos, pelos quais a vida assim flui. No desejo de transpor para a obra de arte sentimentos com os quais elas dizem, denunciam, se extasiam nos meandros tão profundos da criação. Poderia se dizer que a alma feminina tem suas próprias maneiras de expressar paixões. É assim que essa exposição se multiplica nos muitos olhares dessas mulheres.

Qual será a diferença nas fotografias sobre os povos indígenas de Nair Benedicto, nos transes dos Yanomami fotografados por Claudia Andujar, nos flagrantes das fotos de Rosa Gauditano ou nos adornos dos povos do Xingu, de Guta Galli? Essas fotografias e fotógrafas demonstram um profundo respeito aos povos originários, sua livre condição humana, onde elas, imagens e artistas, são tradutoras da urgência em mostrar as expressões desses povos, seu pertencimento e seu existir com liberdade.

Mais duas fotógrafas completam essa lista: 

Rochelle Costi mostra a imagem de uma tenda espiritual, com elementos utilizados, sobretudo, em cerimônias de umbanda. A figura de Zé Pilintra mostra a força deste símbolo religioso. Fernanda Castro expressa sentimentos marcados nesses rostos ansiosos de seus universos cotidianos.

Cristina Mendes, cuja delicadeza destes fios de contas e plumas voltam a refletir a religiosidade exercida pela magia luminosa do encanto.

Sachiko Koshikoku, nipo-brasileira que visualiza em suas pinturas, com repetidas formas, padrões geométricos onde forma e fundo formam um grande ritmo.

A pintura de Cristina Barroso sugere uma sequência de números sobre uma textura de pequenos símbolos deste universo cinzento e lunar.

O que dizer da obra política da pintora chilena Gracia Barrios? Ela que viveu os tempos de glória e de desespero na era de Salvador Allende, presidente do Chile deposto na década de 1970.

Integra a mostra a obra da portuguesa Manuela Pimentel, recriando nesse painel azulejado os mitos e a história do barroco português. E há também a pintora negra baiana Yêdamaria, com suas naturezas-mortas, cheias de cor e de alegria. Suas pinturas são uma espécie de superação de uma vida muitas vezes atravessada pelo sofrimento da condição de ser uma mulher negra. 

Já as pinturas de Edwige Aplogan, do Benim, são agressivas e expressionistas. Suas figuras aludem ainda a uma tensão formal onde o suporte da tela gera ângulos repuxados. 

De Sonia Gomes, é apresentada uma de suas assemblagens, que são como riscos luminosos de cor, grafia no espaço de tensões e adornos formados de tecidos e texturas.

A série As Caranguejeiras de Maureen Bisilliat retrata o cotidiano da vida dura dessas mulheres no manguezal, que a fotógrafa transforma em esculturas vivas de bronze. Assim como as fotografias de Andrea Fiamenghi, que revelam o seu envolvimento com a religiosidade afro-brasileira nos terreiros da Bahia e a profundeza da contrição nos cultos dos deuses africanos.

São três as fotógrafas mais antigas do acervo do Museu Afro Brasil. A baiana Lita Cerqueira e a vida cotidiana da capital baiana que foi sempre a razão de seus cliques. Suas fotografias são reportagens vibrantes da expressão do povo negro. E as cariocas Carla Osorio e Adriana Medeiros, também conscientes da memória dos acontecimentos do cotidiano afro-brasileiro, das festas de Carnaval e das expressões populares da terra fluminense.

Da paulista Rosana Paulino, vem essa série de gravuras feitas no Novo México, nas famosas oficinas litográficas do Tamarind Institute, em um projeto do Museu Afro Brasil com o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo. Essas gravuras expressam uma procura da artista por uma leitura do corpo negro. 

Ainda aqui, vamos ver a sensibilidade de mais quatro artistas nessa atmosfera da exposição. A obra da gaúcha Maria Lídia Magliani, a série intitulada Cartas, que são obras finais da sua existência no Rio de Janeiro, série que queria dizer muitas coisas nessa metáfora de uma obra, talvez consciente de um tempo.

Da baiana Madalena dos Santos Reinbolt, que viveu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, temos essas pinturas bordadas com lã, como se fossem pinceladas. São obras magníficas em sua criatividade e originalidade, ficando a sensação das muitas agulhas usadas pela artista para fazer os relevos de suas figuras e paisagens. 

Quando surgiu no meio artístico de São Paulo, Maria Auxiliadora foi saudada neste ambiente artístico da época pelo seu talento e pela originalidade, ao desenvolver em suas pinturas temas originais sobre a vida e a alma popular.

Da alma brasileira, as barristas do Vale do Jequitinhonha, a mineira Noemisa Batista dos Santos que, com sua sensibilidade em registrar os acontecimentos do seu entorno, apresenta um repertório de temas da vida pulsando como registros delicados da sua percepção cotidiana.

Nesse mesmo viés, estão as placas escultóricas de Maria de Lurdes Cândido, Maria Cândido Monteiro e Maria do Socorro Cândido mãe e filhas, de Juazeiro do Norte, no Ceará. Artistas que apresentam com muita sensibilidade temas que narram as festas profanas e religiosas, os romeiros indo cumprir suas promessas nos carros de bois, enfim, esculturas e pinturas que expressam esse universo rico e popular nessas pequenas placas de barro coloridas. Junto delas, temos ainda Ciça e suas máscaras expressivas em terracota. 

Essas são as vozes da alma feminina no afã de suas expressões.


Emanoel Araujo



 



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  • 24 e 25 de dezembro
  • 31 de dezembro
  • 1º de janeiro