Nota de falecimento do escultor Nicolas Vlavianos

28 de junho de 2022
São Paulo tem isso de horrível, de indiferente, de fraca memória. Talvez pelo seu gigantismo, os acontecimentos e os fatos da vida e da morte acontecem e atropelam-se numa solidão infinita, longe mesmo da nossa percepção.
Temos mesmo de entender o tempo, aquele descrito pelo poeta T.S.Eliot, tempo do passado e do presente, da ausência dos sentidos, quando procuramos lembrar e relembrar amigos que, afastados pela imensidão da metrópole, nos põem em descompasso. Digo isso para falar do desaparecimento de mais um querido colega e amigo, o escultor Nicolas Vlavianos.

Houve um tempo nessa cidade de São Paulo em que estávamos todos juntos nos vernissages de exposições de galerias e museus, nos salões de artes que deixaram de existir, nos conselhos dos museus e na camaradagem simplesmente. Ele e sua grande companheira, a também artista Teresa Nazar, tinham uma galeria no Brooklin. E havia também a querida escritora Edla Van Steen, sócia do casal. Era um tempo de pioneirismo de Sampa, de união de muitos artistas daqueles tempos memoráveis.

Foi também um tempo em que todos procuravam se afastar do gigantismo da cidade. Foi quando começaram a aparecer espaços alternativos e muitos foram nessa moda de viver nos arredores da capital, o mito de uma casa no campo, trabalhar e construir seus espaços, longe dos arroubos da grande cidade. Niki, Teresa e filhos foram viver na Granja Viana, em Cotia. Outros, no Jardim Iolanda, entre Taboão da Serra e Embu.
Essas palavras servem para dizer da saudade interrompida pelo tempo, pela distância, pelos encontros e desencontros, e de um tempo que passou assim, de repente, e que só deixou saudade.  

Emanoel Araujo     



Na imagem:
Nicolas Vlavianos
Escultura em metal
Década de 1970
Coleção particular / Exposição Arqueologia Amorosa de São Paulo, 2022
 
Foto: Claudio Nakai 

 



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