Na última segunda-feira (30/05), com o falecimento do ator e diretor Milton Gonçalves (1933-2022), muitas foram nossas perdas. No teatro, onde iniciou seu trabalho de atuação em 1957, contribuindo na construção de imagens de uma negritude cênica até então negligenciada, ao lado de figuras como Grande Otelo (Sebastião de Souza Prata, 1916-1993) e Ruth de Souza (1921-2019), atuou como memória pensante e testemunha ocular da elaboração de um elenco e enredo afro-brasileiros. No cinema, onde acumulou mais de 70 filmes, ajudou a construir por nós a profissionalização e internacionalização de atrizes e atores negras/os. Destacamos aqui “Rainha Diaba” (1974), onde interpretou Diaba, personagem bixa, afeminado, em plena Ditadura Militar, e “O beijo da mulher-aranha" (1985), concorrente como Melhor Filme no Oscar de 1986. Por “Rainha Diaba” recebeu os quatro principais prêmios de cinema em 1974. Na política e no ativismo, destacam-se suas relações e engajamento com o movimento Diretas Já (1983-1984), no qual tem importante participação. Por fim, na TV aberta, sobretudo por meio das novelas, das quais acumulou cerca de 40 participações, vemos em Milton a continuidade da experimentação artística de um ator que acompanhou a massificação da imagem televisiva.
Nascido em Monte Santo (MG), Milton se mudou ainda pequeno com seus pais, que até então atuavam como catadores de café, para São Paulo. Mais tarde trabalhou numa gráfica, por onde conheceu o teatro, para então o cinema e a novela, onde desenvolveu sua formação política, racial e social.
O Museu Afro Brasil reconhece e admira sua contribuição estética, política e afetuosa. Um legado para a história afro-brasileira.
Foto: Luiz Paulo Lima.