O silêncio e umas saudades

01 de dezembro de 2021
Visitando um amigo outro dia, mais precisamente, o grande encenador de magníficas óperas e espetáculos teatrais, Jorge Takla, meus olhos se depararam com as belas fotografias da extraordinária Vania Toledo, que nos deixou, assim de repente, sem aviso, sem despedida. Foi embora com toda sua alegria de viver, com todo seu talento e sensibilidade. Aquelas fotos nas paredes do Takla me fizeram voltar no tempo da edição do seu audacioso livro, “Homens”, com aquela delicadeza em desnudar. Aqueles tão conhecidos personagens se transformando diante do seu olhar, da lente de sua câmera, destituindo das fotografias qualquer laivo de vulgaridade, muito embora o sensualismo, que era, de fato, uma elegia à beleza que cada um exaltava.

Mas as fotos das quais eu queria falar são as outras fotos nas paredes do Takla, daqueles corpos estendidos numa abstração, prenhes de sensual delicadeza, já ensaiada no seu livro “Homens”. Mas nessas pairava um outro olhar da artista e o
desafio daqueles cortes geométricos, envolvidos numa densa e profunda atmosfera.
Essas palavras de agora sucedem pelo fato de ver na minha rua, dos Ingleses, através da transparência da casa de fachada suis generis, onde morava o ator Sérgio Mamberti, uma foto sua recortada, muito grande, como era o próprio Sérgio, grande de talento, grande de amizade, de bem querer. Me fez voltar às cenas de uma de suas últimas peças, “Visitando o Sr. Green”, cujo espetáculo sonhava fazer na Rússia. Estivemos juntos muitas vezes, sempre com Vania ao lado. Era de fato prazeroso, com sua alegria inteligente, intelectual conscientemente engajada, que nos deixou cheios de imensa saudade, nesse ano de grandes perdas.

E assim também foi com Miguel Giannini, esse tremendo designer de óculos. Seu olhar tinha uma precisão exata de seu mister, ia além da estética, era como colocar no rosto de uma pessoa algo que também falasse de sua personalidade. Ele sabia como interagir com os semblantes de seus clientes.

Quero mostrar uma foto do meu arquivo, da sua chegada à Rua dos Ingleses, com seu museu, com sua ótica, numa festa de São Cosme e São Damião, organizada por mim nos seus espaços. Foi uma reunião com muitos amigos e esse retrato o mostra amorosamente ao lado de uma outra queridíssima e também saudosa amiga, entre muitos que lá estavam, a pintora Tomie Ohtake.
Tudo nesse tempo é o silêncio, de pura e profunda saudade.

Emanoel Araujo


foto: Miguel Giannini, Emanoel Araujo e a Tomie Ohtake. (arquivo pessoal)

 



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