Professor Domingos Tellechea
O professor Domingos Tellechea morreu nessa semana em sua Bueno Aires. Esse ano, de dois mil e vinte e um, será marcado por perdas irreparáveis, quanto e quanto amigos se foram, e, agora nos chega a partida desse extraordinário restaurador, digo extraordinário porque foi ele o formador de todos ou quase todos restauradores de São Paulo.
Esse argentino foi de fundamental importância para o ofício da restauração de obras artísticas, assim como seus estudos, seus livros e a criação de novas técnicas revolucionárias neste campo. Assim, sua visão e sensibilidade são percebidas nas grandes obras em tetos e pinturas parietais, como seu restauro na belíssima Embaixada do Brasil em Bueno Aires, obra monumental daquele teto pintado pelo pintor catalão Sert y Badia (1874-1945). Também foi responsável pela intervenção de conservação no corpo embalsamado de Evita Perón (1919 – 1945), demonstrando seu grande conhecimento científico.
Nesse ano em que o Brasil perdeu também outro grande amigo, seu colega de profissão, o pintor e restaurador Cláudio Valério Teixeira, parceiro em grandes obras no Rio de Janeiro, como o restauro das pinturas do foyer, pano de boca e friso do pintor Eliseu Visconti (1866 – 1944), no Theatro Municipal. Em Niterói, Tellechea também restaurou igrejas, contando com a parceria do restaurador Edson Motta Filho, cujo pai, Edson Motta, foi o introdutor da técnica de restauração na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em meados do século passado.
Em 1998, quando convidei Tellechea para comandar e formar um grupo de alunos restauradores, o objetivo foi salvar as 37 obras do acervo da Pinacoteca do Estado. Posteriormente, ocorreu a exposição dessas obras no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega (Parque Ibirapuera), enquanto o prédio da Pinacoteca passava por um grande restauro estrutural.
Noutro episódio, quando o coordenador do restauro da Capela Sistina no Vaticano, Gianluigi Colalucci veio ao Brasil, o professor Tellechea, seu amigo pessoal, o levou a Salvador para palestrar sobre essa extraordinária obra de Michelângelo (1475 – 1564), entre outras obras recuperadas da famosa capela. Este evento foi o marco introdutório do projeto de restauro do teto da sacristia da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Salvador, estruturado como um ateliê aberto para que o público pudesse acompanhar o trabalho do professor e sua equipe.
Eu poderia falar muito sobre Tellechea e suas passagens pelo Brasil, sobretudo, aqui em São Paulo, onde sua estimada passagem formou muitos dos nossos melhores restauradores, mas encerro por aqui, com a alegria de contemplar o seu legado.
Saudade desse grande inovador da restauração em São Paulo!
Emanoel Araujo
Diretor do Museu Afro Brasi