Esse ano de 2021 tem sido fatal para a vida social e cultural do Brasil. Uma pandemia que assola o país, com perdas de mais de quinhentas mil vidas, um flagelo com consequências da maior gravidade para toda a sociedade. As grandes cidades brasileiras mostram o que o país sofre, o desemparo de tantas vidas flageladas, os milhões de desempregados, a desigualdade, o preconceito e a exclusão dos pobres, dos negros, das mulheres, a violência.
A cada dia perdemos amigos, intelectuais, artistas plásticos, homens e mulheres do teatro, do cinema, filósofos, homens de cultura... E em 01 de agosto, a triste notícia que nos chegou: A partida do meu querido amigo Francisco Weffort, Ministro da Cultura do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Francisco Weffort, acadêmico da Universidade de São Paulo, cientista político, foi o mais importante Ministro da Cultura do Brasil. Com sua sensibilidade, teve um olhar abrangente, profundo e ancestral para a cultura nacional.
Weffort criou a Ordem do Mérito Cultural, reconheceu e premiou personagens históricos da vida cultural, religiosa e artística, assim como intelectuais desse país. Tal foi a forma criada por ele para abraçar homens e mulheres, como reconhecimento de suas contribuições à vida cultural nacional.
Criou o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) e foi em busca de recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para o Programa Monumenta, com o objetivo de cuidar do patrimônio artístico e cultural do Brasil. Pensou e mergulhou na ideia de criar, na Bahia, o Museu das Culturas Negras, projeto que não teve a continuidade sob a gestão de outros ministros.
Um dia, vindo à Pinacoteca para ver a exposição do escultor francês Auguste Rodin (2001-2002), constatou a precariedade do Edifício de Ramos de Azevedo e foi extraordinário o seu apoio, com vultosos recursos financeiros, para sua restauração, junto com o então Governador de São Paulo, Mario Covas.
Dois projetos de sua lavra: a exposição “Para Nunca Esquecer. Negras Memórias, Memórias de Negros”, para a qual escreveu um lúcido ensaio, “Cultura Brasileira, Cultura Mestiça”. E “Clássicos do Samba”, realizado no Teatro Nacional Claudio Santoro, com a orquestra daquele teatro e as memoráveis vozes de Dona Ivone Lara, Jamelão, Martinho da Vila e Eliane Faria. Assim com aquelas vozes, ele homenageou as escolas de sambas do Rio de janeiro.
Não faz muito tempo que, ao saber dele, falando com Helena Severo, sua companheira, veio, de sua voz grave do lado de lá, o convite para um encontro futuro no Rio de Janeiro... Encontro que, infelizmente, não tivemos tempo hábil para concretizar.
Assim, esse pálido retrato é uma homenagem a esse grande amigo da cultura brasileira que se cala e nos deixa sem sua voz de um homem público, construtor do grande paradigma da cultura brasileira.
Adeus, Francisco Weffort. Por certo, você encontrará as gentes que você homenageou... Jorge Amado, Dona Olga do Alaketo, Mestre Didi, Ruth de Souza, Dona Ivone Lara e seu Jamelão, vozes do Brasil, para sempre.
Emanoel Araujo.
Diretor do Museu Afro Brasil
Imagem:
Francisco Weffort e Emanoel Araujo. Evento de despedida de Emanoel Araujo da Direção da Pinacoteca do Estado de São Paulo (2002).
@Arquivo Emanoel Araujo