Recebi da Associação Brasileira da Critica de Arte (ABCA), com muita emoção o premio a mim conferido por minha trajetória como artista e como gestor na área cultural. O critico de arte Clarival do Prado Valladares foi o meu primeiro incentivador, quando o conheci no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia levado por um outro santamarense, Senna, que trabalhava no Colégio Central da Bahia e no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Senna conheceu os meus trabalhos de arte quando fiz uma pequena exposição no diretório do Colégio.
Clarival viu os desenhose guaches atentamente, mostrou certo entusiasmo e me prometeu uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia , dirigido na ocasião pela arquiteto Lina Bo Bardi. Ele cumpriu sua promessa, fiz a minha primeira exposição no prestigioso naquele museu.
Clarival Valladares era médico como seu pai, ele tinha um grande apreço pela criação de artistas mestiços, a literatura, a poesia a musica e as artes plásticas. De uma certa forma, prazer em ver a criação artística brasileira, dos eruditos, dos populares, do barroco brasileiro, da arte Sacra, da arte moderna. Foi talvez o primeiro crítico de arte a falar dos artistas negros, sobretudo nas suas curadoria, quando comissário no primeiro Festival de Arte Negra de Dakar, no Senegal onde deu o primeiro prêmio ao escultor baiano Agnaldo Manoel dos Santos “pós-morte”.
“O impacto da cultura africana no Brasil” foi sua curadoria para o II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana, em 1977, em Lagos, na Nigeria, o famoso Festac. Também como Comissário brasileiro da Bienal de Veneza, convidou João Câmara filho e eu como os artistas da representação brasileira. infelizmente naquele ano de 1966 houve o boicote internacional a Bienal de Veneza.
Ele escreveu obras fundamentais para a arte Brasileira, como Nordeste Histórico e Monumental em dois volumes, Riscadores de Milagres, Rio de Janeiro Barroco e Neo-Clássico, Arte Cimentarial em dois volumes. Além de outros estudos e artigos na Revista na Cadernos brasileiros dos anos sessenta, onde com outros intelectuais foi um Editores-assistente ao lado de Nélida Piñon. Escreveu exaustivos estudos e artigos esparsos em jornais e revistas do país
Em 1983, quando diretor do Museu de Arte da Bahia, organizei um exposição em sua homenagem, “Obra Seleta de Clarival Valladares”, depois de Salvador ela foi a Galeria Massagana da fundação Joaquim Nabuco no Recife almoçamos no tradicional restaurante Leite e na volta ao Rio de Janeiro ele que era um homem de saúde frágil veio a falecer em poucos dias.
Ao receber esse premio volto aos tempos pretéritos e a ele, e a ABCA por estar novamente junto de Clarival, que me ensinou que apesar de todos os percalços do Brasil tudo vale a pena.
Emanoel Araújo
São Paulo,25 de maio de 2020