“Nunca se esqueçam das lições aprendidas na dor.”
Provérbio africano

 

Alguns monarquistas devem comemorar o dia 13 de maio, essa mais que centenária data e que nos legou o golpe militar de 1889. Nas duas datas o Brasil sofreu. Sofre como uma democracia que nunca se consolidou de verdade, e que nunca mostrou de fato sua cara por inteiro. Nas alternâncias periódicas de poder, sempre na corda bamba, a democracia é cruelmente ameaçada.

Outros monarquistas devem ainda culpar o 13 de maio pela derrocada do Segundo Império do Brasil. “Rei morto, Rei posto” e assim, “lá nave vá” ao sabor dos impropérios deixados por herança desse triste período, e outros ainda da nossa história vilipendiada por todos os lados.

Esse texto é uma ode aos brasileiros que tornaram possível essa vitória com seu sangue derramado em favor de um país herdado de seus ancestrais e que, a despeito de tudo e de todos, foram peças muito importantes para sua formação. Deixaram legados para a história e, sobretudo para a originalidade da memória nacional.

Vamos saudar esses ilustres homens e mulheres da nossa história e a lembrança de que esse dia pudesse não ser uma ficção, e sim uma data memorável para o orgulho de todos os negros afro-brasileiros, a despeito dos confrontos, das muitas pedras no caminho e das muitas vitórias – mesmo que muitas vezes venham com sabor de sangue – e das suas grandes conquistas.

Vamos lembrar das muitas mulheres negras escravizadas, estupradas pelo seus senhores, como a mãe do escultor Mestre Valentim da Fonseca e Silva, filho de um comerciante de diamantes que o levou para Portugal e só depois foi devolvido pela sua família. Lembre-se do poeta satírico Luiz Gama, filho da escravizada Luiza Mahin e que foi trazido para São Paulo ainda criança, vendido como escravo pelo próprio pai.

Lembremos do pintor Manoel da Cunha, que comprou sua alforria de escravo da família do Cônego Januário da Cunha Barbosa, que por sinal dizia: “escravo dos meus antepassados e glória da minha família”. Manoel comprou sua alforria, estudou em Portugal e deu aulas públicas de desenho, são dele as grandes pinturas parietais da Igreja de São Francisco de Paula no Rio de janeiro.

Pensemos ainda no grande geógrafo, engenheiro e historiador Teodoro Sampaio, um dos fundadores da Escola Politécnica de São Paulo, que comprou de seu pai a alforria de sua mãe e de seus irmãos.

Estevão Silva, o grande pintor de naturezas mortas, filho também de escrava, e também o pintor Rafael Pinto Bandeira, que diante da brutalidade da vida, suicidou-se na Baía de Guanabara, entre Rio de Janeiro e Niterói.

Pensemos ainda na glória da música sacra e profana do Padre Maurício Nunes Garcia, Mestre da Real Capela no tempo da Família Imperial no Rio de Janeiro. E o grande escritor Machado de Assis, criador da Academia Brasileira de Letras, mestiço como a maioria dos brasileiros, mulheres e homens que enumerados são a prova da grande importância dessa variedade de gente consciente do estado escravocrata em que viviam.

O Brasil deve sempre lembrar e enaltecer os feitos de seus grandes nomes: os abolicionistas José do Patrocínio, Dr. Antônio Pereira Rebouças, Antônio e André Rebouças, Castro Alves, Antônio Bento, Luiz Anselmo da Fonseca, Dr. Juliano Moreira, a Sociedade Beneficente dos Desvalidos da Bahia, os jornais a Villa da Redenção e o Libertador, ambos do Ceará; de Francisco José do Nascimento, o “Dragão do Mar” e seus clamores que deram o verdadeiro significado a este 13 de maio, data não comemorativa, mas uma data que deu a verdadeira relevância abolicionista. Além de muitas e muitas outras personalidades e personagens que deram ao Brasil e a cultura nacional a sua verdadeira cara.

E é por essas e outras manifestações que o Museu Afro Brasil mostra no seu precioso acervo permanente e nas exposições temporárias, quem negro foi e a contribuição do negro para essa grande e sofrida história brasileira.

Diretor e Curador do Museu Afro Brasil