Departamento de Documentação e Arquivo do Museu Afro Brasil realiza a paleografia de documentos históricos

11 de dezembro de 2017
Uma das grandes preocupações do departamento de Documentação e Arquivo do Museu Afro Brasil é - além da preservação da memória - acessar informação através da organização de seu acervo histórico.

 detalhe do documento de 'Relaçam de moradores do Arrayal da Gouveya', escrito pelo Juiz de Paz Vicente da Cruz em 1832Pensando neste desafio, a equipe técnica responsável está investindo seus esforços no trabalho de PALEOGRAFIA de seus manuscritos históricos, que tratam quase em sua totalidade, da cultura afro-brasileira. A paleografia ocupa-se da transcrição e decifração de escritos antigos para um texto atual e legível. Essa “arte” em ler o inelegível remonta à Idade Média, mas sua função enquanto ciência surgiu na virada do século XVI para o XVII. O trabalho de paleografia não trata de adaptar um texto antigo para o português moderno, mas sim de tornar compreensível sua leitura e posterior análise para futuros pesquisadores.
 
Segundo o historiador e paleógrafo Dalton Delfini Maziero – responsável pela documentação histórica do Museu Afro Brasil, “o trabalho de paleografia não acaba com a transcrição dos documentos. Existe ainda muita pesquisa envolvida, para resgatar da história nome e termos do século XIX que já caíram em desuso e que já não fazem mais sentido para nós”. Exemplos disso são os termos “Meação” (ato ou efeito de dividir) e “Sisa” (um dos mais antigos tributos de Portugal, que recaia sobre compra e venda de bens móveis).
 
Neste primeiro conjunto de documentos trabalhados, encontram-se cartões postais, manuscritos, cartas pessoais, contratos e declarações. Quase todos os documentos pertencem ao século XIX e primeiros anos do XX. Um exemplo deste curioso material é o raro livreto “União – Associação de Seguros Mútuos sobre a Vida de Escravos”, editado no Rio de Janeiro em 1876. Trata-se de um processo de seguro físico para escravos.
 
Além deste trabalho de pesquisa, o manuscrito precisa também se adequar às normas específicas de transcrição, que são regidas pela criação de um Manual de Normatização Paleográfica. Esse manual também está sendo desenvolvido pela equipe do Museu Afro Brasil, ao mesmo tempo em que seus manuscritos são decifrados. Além do manual, os documentos passam por processo de higienização e acondicionamento em envelopes especiais.
 
O trabalho de paleografia do departamento de Documentação e Arquivo conta com apoio do Programa de Voluntariado criado pela coordenadoria de Desenvolvimento Institucional do Museu Afro Brasil. Para esta atividade específica, o Museu recebe em 2017, o apoio do historiador e paleógrafo Jean Gomes de Souza, que desenvolve trabalho técnico de transcrição e revisão dos manuscritos. "O acervo documental da instituição é bem diversificado, o que faz com que o trabalho de transcrição dos manuscritos seja um verdadeiro desafio, não sendo possível nos fiarmos em um padrão. Embora a maior parte dos documentos sejam oriundos da compra e venda de escravos no século XIX, da administração dos bens das famílias que realizavam essas transações e de documentos pessoais dos membros dessas famílias, cada um deles apresenta não só uma tipologia documental diferente, mas também letras muito diferentes, exigindo um trabalho minucioso de leitura e de transcrição.  De longe o maior desafio da leitura é a decifração das assinaturas, não só por ter as particularidades da caligrafia do autor ressaltadas, mas também pelo costume de abreviar nome e sobrenome", comenta Jean.
 
Atuando desta forma, em breve o Museu Afro Brasil espera disponibilizar parte desses manuscritos em formato online – através de seu site – para que mais e mais pesquisadores tenham acesso a este precioso acervo.

 



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