Num violento susto, ficamos perplexos. Tudo é dor e, ainda em meio a essa sensação de impotência, somos lançados no dever de pensar sobre a vida e sobre a morte daqueles que são não só queridos pela vida que tiveram, mas essenciais para nossas vidas também: os artistas. Acordamos hoje meditando sobre aquele provérbio africano vertiginoso que diz: "Quando um homem velho morre; é uma biblioteca que se queima". Mas, nos perguntamos: e quando há a destruição e queima dessa biblioteca ainda se maturando e que tinha já muitos de seus frutos prontos a serem saboreados e estávamos mesmo saboreando-os ainda pela metade, e a morte vem e rompe com tudo isso, nos deixando sem tempo hábil para nutrirmos completamente de sua força? Quando da despedida seca do artista negro, por vezes descuidado, e de cujo encontro repentino com a morte nos deixa sem guarda, o seu próprio fim é o que dói. Sidney, quantos negros artistas como você, não partiram cedo demais?
Sidney Amaral (1973-2017), o professor, o pai, o artista, o amigo. Foram essas múltiplas pessoas que perdemos hoje. Ingressou em 1991 na Escola Pan-americana de Artes sendo um aluno aplicado em desenho, pintura, fotografia e outras artes... No Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), em 1999, ele cursou Orientação e Desenvolvimento de Projetos. Por inúmeras exposições, como a que ocorre agora na Estação Pinacoteca “Metrópole: Experiência Paulistana” (até 18/09/2017) muito conhecidos ficaram os seus trabalhos com mármore, resina e porcelana, etc. E a sua produção escultórica, a qual se dedicou com mais intensidade, consistiu basicamente em apropriações de objetos “prosaicos” recriados em bronze. Mas seu desenho, sua pintura e suas instalações, igualmente provocam a sensibilidade de todos.
Nas nossas memórias sobre o amigo ficarão as palavras sobre o artista, ditas por Emanoel Araújo, Diretor Curador do Museu Afro Brasil: Sidney é um provocador da materialidade dos objetos, subvertendo, em muitos dos seus trabalhos a natureza das coisas: o frágil e o leve pelo pesado e resistente, o efêmero pelo definitivo. Há, em suas propostas, uma concepção que materializa no bronze o que poderia ser plástico, ou vice-versa, e com isso ele faz uma nova visualidade no julgamento de seus objetos. Esse jogo de transformar esses objetos faz de sua proposta uma sempre original inquietação entre o público e a obra. Sidney sobrevive pela esposa Lucimara e sua filhinha, Lisieux (de apenas 8 anos). Fique em paz, artista negro! Aqui nos despedimos de assombro e abruptamente, sem um último abraço, mas sem jamais descuidar de suas obras.