21 de Março - Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

21 de março de 2016
Duas frases ditas em 13 de maio de 1959 pela imbatível Carolina Maria de Jesus nos fazem refletir atualmente sobre a cor da pele daqueles que viveram, mataram ou morreram nos "eternos dias de hoje". Quem sabe por que a ONU regulamentou hoje como sendo o "Dia Internacional Contra a Discriminação Racial"? Foi porque, há exatos 56 anos, no dia 21 de Março de 1960, trezentos policiais brancos metralharam até a morte 50 dos 5 mil negros que protestavam contra as leis segregacionistas, em Sharpeville, na África do Sul. Além disso, nove dias depois, 18 mil pessoas foram arbitrariamente presas, porque protestavam contra o assassinato daqueles que protestavam pacificamente contra a lei que obrigava aos negros a ter um “passe”, ou seja, uma caderneta que permitia a alguns negros circularem em locais para brancos, sem a qual estes seriam presos. Nenhum dos assassinos jamais foram condenados, isso graças à “lei de reparação” (Indemnity Act), promulgada às pressas pelo governo, em setembro do mesmo ano, para blindar aqueles policiais responsáveis pela chacina, apesar dos mais de duzentos pedidos de justiça protocolados.


Tiago Gualberto. Sem titulo, 2004, Acervo Museu Afro Brasil

Ainda em 1960, não muito longe dali, no antigo Congo Belga, foi eleito democraticamente como primeiro-ministro Patrice Lumumba (1925-1961) porém, este ocuparia o cargo apenas por 3 meses, porque seria retirado de lá por um golpe de Estado e posteriormente assassinado com a participação hoje assumida do governo dos EUA e da Bélgica que, assim como a ONU, (que ocupou o país militarmente de 1960 a 1964) tinham outros planos para o futuro do Congo e interesses diferentes daqueles almejados pelo direito e pelo voto. Àquela altura, o país já estava em processo avançado de descolonização, porém, vivendo em plena guerra fria, os invasores viam no jovem líder negro uma ameaça política para a região e preferiram rasgar a declaração assinada na ONU que (tergi)versava sobre o “Direito de Autodeterminação dos Povos”. No Brasil, setenta e dois anos antes disto a princesa Isabel, filha de D. Pedro II, assinava a "Lei Áurea", que decretava a "abolição formal" da escravatura, mas mantinha ao mesmo tempo a "escravidão real", já que a indenização pensada para alguns negros acabou sendo efetivada apenas para alguns brancos. Por conseguinte, para além de todas as datas comemorativas criadas pelas cores dos que estão no poder, fiquemos neste dia Internacional Contra a Discriminação Racial" com duas frases muito coloridas ditas pela Carolina Maria de Jesus às quais nos referimos no início deste post: "E assim, no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual - a fome!" e "Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz (SIC)"

Carolina Maria de Jesus “O Quarto de Despejo” (6a. Ed. 1960. p.32)

 



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