"Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber"

21 de janeiro de 2014
“...é necessário um golpe de raio que abisme e subverta tudo, para tudo”
(Marquês de Pombal)
 
Esta exposição comemora simultaneamente os dez anos do Museu Afro Brasil e os cem anos da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em Portugal. Esse cabedal de conhecimento agora tratado significa um  dos momentos mais extraordinários no campo da pesquisa e da renovação acadêmica, liderado por Sebastião José de Carvalho e Melo, o  muito famoso Marquês de Pombal, o grande primeiro-ministro responsável  pelas profundas mudanças na Corte Portuguesa no século XVIII, entre elas  a reconstrução da cidade de Lisboa, depois do devastador terremoto de 1755, refazendo o que hoje se costuma chamar a Baixa Pombalina.

A 22 de setembro de 1772, com a visita do Marquês de Pombal, ministro do rei D. Jose I (1750-1777), a Coimbra, procedeu-se a fundação da Nova Universidade, com as Faculdades de Matemática, de Filosofia e também de Medicina. Essas mudanças são do tempo do Reitor Reformador  Dom Francisco de Lemos de Farias Pereira Coutinho, natural do Brasil. Nasceu a 5 de abril de 1735 no engenho de Marapicu, pertencente ao seu pai, na freguesia de Santo Antônio, região metropolitana do Rio de Janeiro. Faleceu em Coimbra a 16 de abril de 1822. Esse fato notável possibilitou um  momento  único de grandes mudanças das pesquisas cientificas  no Brasil e África. 

Das novas orientações  da Faculdade de Filosofia de Coimbra é, sem dúvida, a viagem do baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), doutor em Filosofia natural, discípulo de Domingos Vandelli e que fora encarregado  de uma expedição científica pelo Amazonas, correndo as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, entre 1783 a 1792. Essa missão ficou conhecida como “Viagem Filosófica”. Outro discípulo de Vandelli foi Joaquim  Veloso de Miranda, que se instalou em  Vila Rica, Minas Gerais,  e que também se dedicou à botânica e tratados  sobre a Flora Brasiliense.

Com peças raras do acervo da centenária Faculdade de Ciências de Coimbra e de colecionadores particulares e artistas contemporâneos, a exposição traz a história das pesquisas dos professores italianos Giovanni Dalla Bella, Domingos  Vandelli e Michele Franzini, além do engenheiro Miguel Ciera, que integrou os trabalhos de delimitação das possessões portuguesas na  América do Sul. Esse legado compõe um valioso patrimônio científico, reunido nas confluências entre Portugal e Angola.

O Mapa Geográfico do Rio de Prata, do Pará e Paraguai, feito em 1758 por Miguel Ciera, pontua esse itinerário. Um mapa é sempre uma proposta singular de reinterpretação do mundo.

Os laços históricos entre Portugal e Brasil são bastante conhecidos, mas o grande público geralmente desconhece o interesse científico que Portugal, a Metrópole, sustentou em relação às suas colônias. O investimento de cunho científico no Ultramar se refletiu numa aquisição por instituições portuguesas, ao longo dos séculos de dominação, de exemplares do reino vegetal e animal, além de objetos etnográficos, testemunhos da rica história dessas  regiões.

Um dos núcleos da exposição apresenta o raríssimo acervo de Antropologia do Museu da Ciência da Universidade de  Coimbra, destacando-se entre os muitos objeto etnográficos 32 tampas de panela do povo Woyo, recolhidas pelos missionários do Espírito Santo, de presença marcante em Angola desde a década de 1860. 

O estudo e a exploração da natureza expandiram-se para o continente africano ao longo do século XIX. Estas expedições com objetivos científicos vão estar presentes na exposição através de herbários do botânico Friedrich Welwitsch em Angola, no ano de 1852, e de parte substancial da coleção Luis Carrisso, recolhida entre 1927 e 1936.

Outro segmento  se incorpora à exposição  “Cartografia do Poder”: uma iconografia do Morgado de Mateus Dom Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, para homenagear aquele que foi o primeiro governador de São Paulo. Em 1765, foi nomeado pelo Rei D. José I Capitão-general e governador da capitania de São Paulo. 

Esse retrato de corpo inteiro, presente na exposição, do acervo da Casa de Matheus em Vila Real, mostra um homem entre os 40 e 50 anos, de fisionomia entre o afável e o severo, com ar refinado de experiência e vida da corte e um leve rictus de ceticismo na expressão. Ainda se exibe os mapas das batalhas travadas de 1755 e os mapas  da cidade de São Paulo existentes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

As 37 estampas atribuídas a Joaquim José de Miranda registram a expedição comandada pelo seu tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio nos campos de Guarapuava, indo pelos Campos do Carrapato, no sertão do Tibagi, distrito de Curitiba.

Ainda nos cabe mostrar a presença portuguesa no Japão e na Índia, com os belos objetos indo-portugueses, santos de caixas e contadores  recobertos de  marfim entalhados ou com decoração geométrica, o raríssimo estribo e o biombo Namban e as obras afro-portuguesas, como os olifantes de marfim.

A arte contemporânea portuguesa, brasileira e africana faz o contraponto simbólico destes  diferentes conteúdos,  como fato primordial da presença de brasileiros e portugueses no Brasil e na África e no Oriente, para narrar a complexidade da “Cartografia do poder aos Itinerários do Saber”,  num jogo entre  a história e a contemporaneidade,  uma em relação a outra e essa outra numa  relação simbólica  dos destinos do homem perante os desígnios da vida  como ela é e de como isso está presente no inconsciente coletivo da humanidade.

Emanoel Araujo

 



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