No Dia da Consciência Negra, o Museu Afro Brasil vai exibir, no Auditório Ruth de Souza, o documentário "Hereros - Angola", de Sérgio Guerra, ás 16h.

18 de novembro de 2013
SINOPSE DO DOCUMENTÁRIO

Hereros Angola é um documentário sobre o grupo étnico do mesmo nome. Habitantes das terras do sudoeste de Angola e provenientes dos povos bantos, os hereros são donos de uma tradição ancestral que é passada oralmente de pais para filhos. O filme mostra o conhecimento vivo destes povos, em constant movimento: do nascimento à morte, atravessando os mais importantes aspectos da ancestralidade, que mantêm essa milenar cultura de pé e que agora ganha novos sentidos através da câmera cinematográfica. Os planos levam a territórios improváveis da experiência humana, que aos olhos externos podem parecer somente exóticos. Através de um convívio intenso com esses povos, o filme mostra um presente, que não só reflete o passado, mas eterniza uma cultura quase sem registros.

O filme Hereros Angola faz parte de um projeto maior concebido por Sérgio Guerra, composto do já lançado livro de fotografias e uma série de exposições autorais, além de um CD com registros musicais dos ritos hereros captados em campo, sem intervenções. O documentário vem enriquecer o projeto, ao registrar e tornar pública a montagem final de um grande acervo audiovisual, captado em várias estadias com os hereros entre 2009 e 2012.


O DIRETOR

Há 15 anos, Sérgio Guerra vive em Angola, e em meio ao seu trabalho de comunicação, ele conheceu e fotografou as mais diversas realidades desse país. E foi numa dessas viagens que ele conheceu o povo Herero, e decidiu dar um mergulho mais profundo nessa cultura, preparando assim uma expedição pelo sul de Angola, onde parte desses povos habita. Em paralelo a fotografia, escolheu o cinema como a linguagem com maior potencial de reprodução do discurso de um povo sem escrita, com costumes que se perdem e se transformam ao serem passados via oral. Então com a câmera cinematográfica foi possível armazenar as múltiplas visões de um mesmo mundo, no desejo de exibir as práticas e representações culturais dos Hereros, que sem esse esforço, e de alguns outros estudiosos, essa história já teria se apagado.

A intenção do projeto é dar voz ao esquecido, contar algo acerca da vida dessa gente, assim como servir de instrumento na transmissão dos saberes, e na iniciação das gerações mais novas ao universo dessa extraordinária cultura. Busca-se, nesse projeto muito mais que uma aula de história, o resultado de uma entrega mútua entre a retina e o retido, de uma aproximação possível para uma percepção dessa interculturalidade e agora poder exibir para o mundo histórias fascinantes.

Em África é comum dizer que os ventos do passado ainda guiam os homens do presente, de modo que esse projeto aprende com essa ancestralidade, e com a maior riqueza dos Hereros: sua tradição. Tornando-se uma importante registro oral e imagetico, e mais que isso, a preservação de uma memória coletiva extremamente complexa para gerações futuras; esse projeto não contente apenas em ver e analisar, quer mostrar, dizer o que se vê; os saberes e expressões desse patrimonio imaterial da humanidade, isto é o transformar o olhar em linguagem.

Ademais, o projeto tem interesse especial no Acordo de Cooperação Cultural entre a República Federativa do Brasil e a República Popular de Angola, desejoso de fortalecer os laços comuns existentes entre os seus povos, e de promover as relações culturais entre os dois países, além de deixar um importante registro desse patrimônio imaterial.

TEXTO DO SÉRGIO GUERRA SOBRE O DOCUMENTÁRIO

Por que os hereros?

Vivendo em Angola há quase quinze anos percebi a ignorância entre os próprios angolanos acerca das suas populações tradicionais, em especial os Hereros, por não existirem enquanto designação principal e estarem caracterizados como subgrupos, com línguas e designações diversas: Mukubais, Muhimbas, Muhakaonas, Mudimbas e Muchavicuas. Desses, apenas os Mukubais eram reconhecidos, por conta de suas idas à capital do país para comercialização de alguns produtos.
Através das minhas atividades na área de comunicação, em 99 conheci os Mukubais e em 2008 retomei o contato para fotografá-los na região do Virei na Província do Namibe e nessa ocasião acabei por conhecer os Muhimbas. O encontro me encantou e revelou-se como um prenúncio de que aquelas pessoas tinham muito a dizer e que a minha vida não seria a mesma depois de conhecê-los melhor. Surgia assim a ideia do documentário que estamos a lançar.
Começamos a fazer captações, e em meados de 2009, éramos uma equipe de 17 pessoas, com uma logística complicadíssima,   a conhecer mais profundamente estas populações que teimam em viver numa tradição milenar e que muito tem para nos ensinar. Desde então, perto deles, tenho aprendido muito sobre a vida e suas prioridades. Numa lógica totalmente pragmática eles nos expõem enquanto sociedade, moral e sobrevivência: “Nós nos interessamos pelos animais e pelas pessoas. Precisamos da chuva para estarmos felizes.”
Confirmando a minha constatação inicial do trabalho de pesquisa e captação, estabeleceu-se uma relação de amizade, descobrimento, carinho e, acima de tudo de um compromisso ético,  de alguma forma eu vou  os ajudando materialmente e eles retribuem me mostrando o caminho de volta a minha essência.
O filme que agora lançamos não conta a história da nossa relação com eles. É antes, um documento deles por eles, na língua deles. Esta foi a minha opção desde o inicio e por isso fiz questão de observar os seus tempos.
A trilha de Ubiratan Marques foi composta e, em parte, captada durante as gravações na busca de uma sintonia do erudito com o popular.  Alguns podem achar algumas cenas muito violentas, mas o desejo é também o de produzir uma contribuição antropológica ao nos voltarmos ao cinema étnico muito comum nos anos setenta, oitenta, mas com um olhar atual e moderno, portanto mais objetivo.
Aí estão os Hereros na forma como vivem, seus rituais e toda a sua cultura. Espero sermos merecedores da confiança dessas pessoas que, através deste documento, possam se mostrar ao mundo na legitima reivindicação do seu lugar, sua tradição. A legítima reivindicação de poderem serem, simplesmente, eles mesmos.


FICHA TÉCNICA 
O documentário tem duração de 86 minutosCARTAZ HEREROSjpg
Concepção e direção: Sérgio Guerra 
Produção executiva: Sérgio Guerra e João Guerra 
Roteiro: Marcelo Luna 
Direção de fotografia: Hamilton Oliveira 
Coordenação e pesquisa: João Guerra e Vanessa Francisco 
Montagem: Mariana Valença e Marcelo Luna 
Direção de arte: Renato Barreto 
Trilha sonora: Bira Marques 
Edição de Som: Catarina Apolônio e Napoleão Cunha 
Som direto: Napoleão Cunha

 



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