Mostra no Afro Brasil exibe início do modernismo na Bahia

13 de março de 2013
Na tela de José Pancetti, o escritor e colecionador Odorico Tavares aparece retratado com óculos de aros vermelhos e uma camisa dividida em campos de cor amarelos e alaranjados, demarcados com certa rigidez geométrica.

Num claro contraste, Tavares, que morreu em 1980, descreveu o artista como "romântico inveterado", de "alma chapliniana de desajustado e de amoroso, latino nos exacerbamentos, muitas vezes violento nos amores".

Violentas ou não, as relações de Tavares com artistas que conheceu --e aos quais chegou a dedicar um livro de poemas-- estão por trás da coleção que ele construiu.

Um grande recorte de obras de Pancetti, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e estrangeiros como Pablo Picasso e Joan Miró, todos na coleção de Tavares, está agora no Museu Afro Brasil.

 Entre os anos 1940 e 1960, Tavares, pernambucano que foi a Salvador dirigir os Diários Associados a convite de Assis Chateaubriand, colecionou os maiores nomes da arte moderna que se firmava no Brasil, além de fomentar uma revolução plástica na Bahia.

Ele esteve por trás da formação do Museu de Arte Moderna em Salvador e lançou figuras como Pierre Verger, que fotografou suas reportagens na revista "O Cruzeiro".

"Seu olhar sempre foi a modernidade", diz Emanoel Araújo, diretor do Afro Brasil e curador da mostra. "A arte na Bahia ainda era acadêmica, e ele criou essa ruptura."
figurativo e abstrato

Telas como "Endomingada" e "Menina com Flores", de Portinari, dividem espaço com paisagens de Alfredo Volpi e retratos de Pancetti. Mas também estão lá, marcando a travessia do figurativo para a abstração, trabalhos de Antônio Bandeira, Manabu Mabe e Flávio Shiró.

Lado a lado, "Cais", de Bandeira, em que Tavares enxergou as cores do Ceará misturadas às de Paris, e "Tropical", de Shiró, causam certa reverberação no espaço, com traços e gestos que parecem ecoar de uma para a outra.

Também na escultura há certa ressonância entre as obras em ferro forjado de Mário Cravo Júnior e Francisco Stockinger, que junta metal e madeira na figura de uma mulher híbrida, seu corpo feito de texturas contrastantes.

Essa mesma aspereza metálica ressurge nas vistas baianas de Poty Lazarotto, que gravou em metal as paisagens de Salvador, como os veleiros atracados na enseada e a topografia acidentada dos telhados do casario.

Mais exuberantes, as gravuras de Miró renunciam à realidade e se ancoram numa iconografia única, a imaginação do artista a serviço da criação de um novo mundo mergulhado em azul e povoado por criaturas insólitas.

MODERNIDADE

QUANDO 
de ter. a dom., das 10h às 17h

ONDE 
Museu Afro Brasil (pq. Ibirapuera, portão 10, tel. 3320-8900)

QUANTO 
grátis

 

Silas Martí


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O Museu está aberto o ano todo, com exceção das seguintes datas:

  • 24 e 25 de dezembro
  • 31 de dezembro
  • 1º de janeiro