Foto: Luiz G. Valcazaras.
Exposição Quilombo do Jaó Itapeva – São Paulo | Brasil
O Quilombo do Jaó é reconhecido como uma das comunidades quilombolas mais antigas do Estado de São Paulo. O casal Joaquim Carneiro de Camargo e Josepha Paula Lima fundou a comunidade entre 1889 e 1897, ao adquirir terras do Sítio Ponte Alta, na zona rural do município de Itapeva, no sudoeste paulista. Ali geraram seis filhos: Elydio, Hermínia, Waldomira, Diolinda, Elizina e Laurinda.

O nome Jaó remete a uma ave da região, hoje extinta, e foi adotado no início da década de 1980, por influência de uma estação ferroviária de mesmo nome, situada nas proximidades. Atualmente o quilombo é composto por mais de 300 pessoas, distribuídas em 78 famílias e ocupa uma área de 165,57 hectares, fazendo divisa com as fazendas São Marco, Rincão, Alba, Prelúdio e sítios São Miguel Arcanjo I e II.

No ano 2000, o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) realizou o Relatório Técnico-Científico, reconhecendo o território como quilombola. Em 2004, foi fundada a Associação dos Produtores Rurais Quilombos do Jaó para a organização de produção e comercialização de produtos, além da defesa dos direitos quilombolas como saúde, educação, preservação ambiental e cultural. Em 2006, a Fundação Cultural Palmares certificou a comunidade como remanescente de quilombo e, em 2018, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu oficialmente o Quilombo do Jaó. Em 2024, o presidente da república assinou o decreto de titulação, porém o documento ainda não foi emitido e entregue à comunidade.

Uma das principais fontes de renda dos quilombolas do Jaó é o trabalho nas fazendas do entorno, que produzem principalmente soja, milho e feijão. A agricultura familiar é praticada sobretudo por mulheres. Atualmente, existem vinte e oito hortas agroecológicas no Jaó, que escoam seus produtos à entidades de assistência social, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

O território conta com energia elétrica e abastecimento de água por meio de poço artesiano. As casas de taipa de mão (pau-a-pique) foram substituídas por edificações de alvenaria a partir do Projeto “Complementando Renda”, da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, em parceria com a Prefeitura Municipal de Itapeva. Além das casas, a comunidade possui sede da Associação dos Produtores Rurais Quilombos do Jaó, a Escola Municipal Quilombola Josepha de Paula Lima, Unidade Básica de Saúde, galpão de costura utilizado pelas mulheres artesãs e a Casa de Taipa do Senhor Roque Camargo. Estão presentes as igrejas Congregação Cristã do Brasil, Deus é Amor, Luz Divina, Assembleia de Deus Ministério Belém, ocupante da antiga escola de maneira, e a Igreja Católica Apostólica Romana.

As pessoas mais velhas do Quilombo do Jaó compartilham memórias, saberes e contam histórias de seres como Saci, Boitatá, Lobisomem, Mula sem Cabeça e Mãe do Ouro. O Senhor Roque Camargo Lima é um guardião do saber da construção em taipa de mão (pau a pique). As lideranças Kemilin Martins e Deise Lima contam com o apoio da gestão da escola municipal para a realização de atividades que promovem a conscientização e a preservação de temas e manifestações da cultura afro-brasileira como a capoeira, o maculelê e mitologias, sem questionamentos influenciados pela religiosidade cristã ou pelo racismo. A instituição de ensino também contribui com o levantamento da história e da árvore genealógica da comunidade, documento atualizado constantemente.Em 2025, após 25 anos no quilombo, a Escola Municipal passou a ser oficialmente denominada Quilombola, recebendo o nome da matriarca Josepha de Paula Lima e incorporando em seu currículo o ensino de história da África e da diáspora africana, em conformidade com a Lei 10.639/03, além de empregar pessoas do Quilombo do Jaó em seu quadro funcional.

Em 2014, a comunidade foi contemplada pelo projeto “Artes e Ofícios: Saberes e Fazeres Ancestrais e Civilizatórios”, do ITESP, que promoveu oficinas de capacitação artesanal, sustentabilidade econômica, formação de multiplicadores e de intercâmbio cultural, culminando em uma exposição no Complexo Cultural Funarte São Paulo.

A Semana da Consciência Negra no Quilombo do Jaó é realizada desde novembro de 2018, com programação cultural destinada a estudantes das escolas da região e ao público em geral. Além de integrar a Rota dos Cânions Paulistas, circuito de ecoturismo e cicloturismo, em 2023, o quilombo passou a promover o Festival da Mandioca. No mesmo ano, o projeto “Mulheres Negras movem a Terra: Economia Criativa no Quilombo do Jaó” foi contemplado no Edital de Seleção Pública nº 2023/012 – Empoderamento Socioeconômico das Mulheres Negras, da Fundação Banco do Brasil. Em 2025 o Quilombo do Jaó passou a integrar o Roteiro do Milho, iniciativa da Cânions Paulistas, e iniciou parceria com o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, a partir do Projeto Quilombos Paulistas, do Programa Conexões Museus SP.
























