Foto: Luiz G. Valcazaras.

QUILOMBO DO JAÓ

20/12/2025 a 01/02/2026

O Quilombo do Jaó é reconhecido como uma das comunidades quilombolas mais antigas do estado de São Paulo. O casal Joaquim Carneiro de Camargo e Josepha Paula Lima fundou a comunidade entre 1889 e 1897, ao adquirir terras do Sítio Ponte Alta, na zona rural do município de Itapeva,  no sudoeste paulista. Ali tiveram seis filhos: Elydio, Hermínia, Waldomira, Diolinda, Elizina e Laurinda.

O nome Jaó remete a uma ave da região, hoje extinta, e foi adotado no início da década de 1980, por influência de uma estação ferroviária de mesmo nome, situada nas proximidades. Atualmente, o quilombo é composto por mais de 300 pessoas, distribuídas em 78 famílias e ocupa uma área de 165,57 hectares, fazendo divisa com as fazendas São Marco, Rincão, Alba e Prelúdio, além dos sítios São Miguel Arcanjo I e II.

No ano 2000, o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) realizou o Relatório Técnico-Científico, reconhecendo o território como quilombola. Em 2004, foi fundada a Associação dos Produtores Rurais Quilombos do Jaó, com o objetivo de organizar a produção e a comercialização de produtos, além de atuar na defesa dos direitos quilombolas, como saúde, educação, preservação ambiental e cultural. 

Em 2006, a Fundação Cultural Palmares certificou a comunidade como remanescente de quilombo e, em 2018, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu oficialmente o Quilombo do Jaó. Em 2024, o presidente da República assinou o decreto de titulação; contudo, o documento ainda não foi emitido nem entregue à comunidade.

Uma das principais fontes de renda dos quilombolas do Jaó é o trabalho nas fazendas do entorno, que produzem principalmente soja, milho e feijão. A agricultura familiar é praticada sobretudo por mulheres. Atualmente, existem vinte e oito hortas agroecológicas no Jaó, que escoam seus produtos para entidades de assistência social, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

O território conta com energia elétrica e abastecimento de água por meio de poço artesiano. As casas de taipa de mão (pau-a-pique) foram substituídas por edificações de alvenaria a partir do Projeto “Complementando Renda”, da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, em parceria com a Prefeitura Municipal de Itapeva. Além das casas, a comunidade possui sede da Associação dos Produtores Rurais Quilombos do Jaó, a Escola Municipal Quilombola Josepha de Paula Lima, uma Unidade Básica de Saúde, um galpão de costura utilizado pelas mulheres artesãs e a Casa de Taipa do Senhor Roque Camargo. Estão presentes as igrejas Congregação Cristã do Brasil, Deus é Amor, Luz Divina, Assembleia de Deus Ministério Belém, atualmente ocupante da antiga escola de madeira, e a Igreja Católica Apostólica Romana.

As pessoas mais velhas do Quilombo do Jaó compartilham memórias, saberes e histórias sobre seres como o Saci, o Boitatá, o Lobisomem, a Mula sem Cabeça e a Mãe do Ouro. O senhor Roque Camargo Lima é um guardião do saber da construção em taipa de mão (pau-a-pique). 

As lideranças Kemilin Martins e Deise Lima contam com o apoio da gestão da escola municipal para a realização de atividades que promovem a conscientização e a preservação de temas e manifestações da cultura afro-brasileira, como a capoeira, o maculelê e mitologias, sem questionamentos influenciados pela religiosidade cristã ou pelo racismo. A instituição de ensino também contribui para o levantamento da história e da árvore genealógica da comunidade, documento  constantemente atualizado.

Em 2025, após 25 anos de atuação no quilombo, a escola municipal passou a ser oficialmente denominada quilombola, recebendo o nome da matriarca Josepha de Paula Lima e incorporando em seu currículo o ensino de história da África e da diáspora africana, em conformidade com a Lei 10.639/03, além de empregar pessoas do Quilombo do Jaó em seu quadro funcional.

Em 2014, a comunidade foi contemplada pelo projeto “Artes e Ofícios: Saberes e Fazeres Ancestrais e Civilizatórios”, do ITESP, que promoveu oficinas de capacitação artesanal, sustentabilidade econômica, formação de multiplicadores e intercâmbio cultural, culminando em uma exposição no Complexo Cultural Funarte São Paulo.

A Semana da Consciência Negra no Quilombo do Jaó é realizada desde novembro de 2018, com programação cultural destinada a estudantes das escolas da região e ao público em geral. Além de integrar a Rota dos Cânions Paulistas, circuito de ecoturismo e cicloturismo, em 2023 o quilombo passou a promover o Festival da Mandioca. No mesmo ano, o projeto “Mulheres Negras movem a Terra: Economia Criativa no Quilombo do Jaó” foi contemplado no Edital de Seleção Pública nº 2023/012 – Empoderamento Socioeconômico das Mulheres Negras, da Fundação Banco do Brasil.

Em 2025, o Quilombo do Jaó passou a integrar o Roteiro do Milho, iniciativa da Cânions Paulistas, e iniciou parceria com o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, a partir do Projeto Quilombos Paulistas, do Programa Conexões Museus SP.

FICHA TÉCNICA

Curadoria Compartilhada

Quilombo do Jaó

Deise Lima

Kemilin Martins

Escola Municipal Quilombola Josepha de Paula Lima

Francismaire Aparecida Painado

Regina Marques Mendes

Museu Afro Brasil Emanoel Araujo

Gabrielle Nascimento

Janderson Brasil Paiva

Fotografias

Carolina Klocker

Gabriela Correa

Luiz G. Valcazaras

Mariana Macedo

a convite das lideranças do Quilombo do Jaó.

Apoio

Cânions Paulistas

Agradecimentos

Ana Clara Schuller

Claudio Nakai

Leonardo Dias Santana

Projeto Quilombos Paulistas | Programa Conexões Museus SP

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